terça-feira, 10 de abril de 2012

(...) Primeiramente, é claro serem todas as paixões desregradas produzidas pela loucura. A única diferença entre o louco e o sábio é que o primeiro obedece às suas paixões e o segundo à sua razão. Eis porque os estoicos interdizem ao sábio as paixões, por eles consideradas doentes. No entanto, são estas paixões que servem de guia aos que voam com ardor na carreira da sabedoria: são elas que os inspiram a cumprir os deveres da virtude, e os inspiram a ideia e o desejo de fazer o bem. Inútil é que Sêneca, esse estoico exagerado, diga ser o sábio inteiramente despido de paixões. Um sábio assim já não seria homem, seria uma espécie de deus, ou antes, um ser imaginário que jamais existiu e jamais existirá; ou enfim, mais claramente, um ídolo boçal, privado de qualquer sentimento humano, e tão insensível que o mais duro dos mármores. Deixemos que os estoicos se alegrem como queiram com o se sábio imaginário, que amem à vontade, visto que não terão rivais, mas que vão com ele viver na república de Platão, no reino das idéias, ou nos jardins de Tântalo. (...)

Erasmo de Roterdã ( O Elogio da Loucura)

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