terça-feira, 31 de março de 2009

segunda-feira, 30 de março de 2009

A Vida Sexual dos Kefirs

Esta ainda é a minha terceira postagem, mas alguns amigos já me questionaram por que o nome do blog é sexo, amor e outras besteirinhas e até agora nada de sexo. Pois bem tentarei remediar o erro, a uns meses atrás ganhei de um amigo natureba uma muda de Kefir, para quem não sabe do que se trata são aqueles floquinhos brancos de qualhar leite para fazer iogurte. O curioso do Kefir é que por mais que não tenham uma aparência muito agradável eles podem ser considerados um bichinho de estimação, com muitas vantagens sobre estes uma vez que não precisa trocar a areia, não deixam pêlos pela casa e não destroem os móveis, como minha gata faz. Portanto quando ganhei a pequena colônia pensei: “... não deve ser mais difícil de cuidar do que de uma gata psicótica, como é o caso da Capitu”. Qual não foi o meu assombro quando percebi que a colônia tem uma vida sexual agitadíssima, tanto que não estou vencendo tirar o excesso e isto tudo sendo mantidos em água filtrada e uma pequena colher de açúcar mascavo. Temos que admitir que é uma vida um tanto privada de conforto para terem tanto ênfase sexual, outro dia mesmo uma amiga me confidenciou que não consegue ir para cama com o namorado sem alguns apetrechos básicos como vela perfumada, um bom pró-seco e lençóis de percal 200 fios, e que a cotação do dólar tinha influência direta sobre a sua libido. Analisando por esta ótica cheguei a conclusão que os Kefirs estão muito mais bem resolvidos em sua vida sexual que a nossa classe média deslumbrada. Kefirs ou tíbicos como são chamados no ocidente não passam de lactobacilos vivos que todo mundo conhece por causa do Yakult (que gelado é ótimo para curar ressaca), e se reproduzem de forma assexuada... A partir daqui a coisa começa a ficar interessante! Ou seja, não rola um oba oba entre os bichinhos, recordemos as aulas de biologia do ensino fundamental, assexuada é a reprodução a partir de um ser vivo somente não precisa de macho e fêmea, nem de jantar a luz de velas e nem preliminares. Como espécie mais sexual do mundo sexuado, sempre tivemos a concepção de que não há coisa mais sem graça que este negócio de reprodução assexuada, pois bem, minha colônia de Kefirs esta provando o contrário, pois mesmo com crise econômica, aquecimento global e BBB 9 eles continuam mandando ver. Fico pensando se não estamos evoluindo também para o assexulalismo (esta palavra existe?), sim porque se continuarmos com tanto medo de se envolver a ponto de trocarmos o contato humano pelo prazer virtual da tela do computador, qualquer noite podemos dormir normais e acordar grávidos. Tudo bem não vou dar uma de Cassandra do mal e prever um mundo sem o bom e velho sexo com duas pessoas, ou três, ou quatro... Enfim, mesmo assim ainda acho que devíamos aprender alguma coisa com os Kefirs, aliás, sem alguém se interessar eu estou doando.

quinta-feira, 26 de março de 2009

A postagem anterior é um comentário que vem responder a um excelente texto do Thiago sobre o desaparecimento de um ex-colega de classe nosso do curso de jornalismo da UNISO em 2005. O cara sumiu, simplesmente sumiu e dizer que tomou Doril além de clichê é de uma pobreza de linguagem ímpar! Vale a pena ler o texto do Thi em:

http://thiagoarioza.blogspot.com/

...?

Hoje cheguei ao lar depois de um dia daqueles e descobri que meu apartamento esta sendo tomado pelas formigas, digo “pelas” porque não é qualquer formiga inocente, são daquelas grandes, vermelhas e cabeçudas. Se uma formiguinha comum carrega dez vezes seu próprio peso, não duvido que as minhas possam me carregar durante o sono, fui seguindo o comboio das infames e descobri que elas estavam entrando pelo buraco do cabo da TV que saindo do fio principal passa pelos galhos da árvore em frente a minha janela. Pois é, não sei por que cargas d’água elas resolveram mudar dos galhos frondosos para minha sala, mas o caso é que fiquei irada e armada de um inseticida pulverizei o êxodo feliz. Aquelas que não foram envenenadas morreram a chineladas e minutos depois meu chão de madeira estava coberto de cadaverizinhos rubros, algumas estavam estropiadas e pareciam mortas mas segundos depois disparavam numa corrida louca parecendo zumbis que saíram de um filme do Romero. Foi então que decidi perscrutar com a vizinha se o mesmo tinha acontecido com ela e após uma pesquisa rápida pelo prédio descobri que fui a única a ser escolhida para dividir o apartamento com a praga. Como ando num momento existencialista, minha existência deixo claro, pois a das formigas não me causa compaixão alguma, fiz a seguinte pergunta: Por que eu? Sim porque devido às maravilhas de uma economia aquecida todos do prédio têm TV a cabo e podem gozar dos seus 2000 canais e sua internet banda larga que baixa pornografia em frações de segundos. Em tempo, todos os cabos passam pela árvore frondosa e, portanto as formigas poderiam escolher entre seis apartamentos, mas optaram pelo meu, seria porque moro sozinha e elas consideram isto um latifúndio? Seriam elas provenientes de algum movimento popular de pró moradia? O que as motiva não me interessa só sei que comprei mais dois frascos de inseticida para deixar bem claro que do que é meu cuido eu!
Agora o que esta estória tem a ver com o sumiço do nosso colega de classe? Na verdade nada, é pura vaidade fazer uma retranca, mas como tenho vários hábitos e são quase todos ruins eu vou tentar. Admito que o achasse estranho mas também sabia que isto não vazia de nós outros normais, soturno, sinais de melancolia, mas isso não me impressionava pois já vi menininhas de cor-de-rosa cortarem os pulsos por muito pouco. Na minha não tão humilde opinião ele fugiu, simplesmente fugiu! Afinal a fuga é uma escolha, o amor é uma escolha, a fé é uma escolha, a morte é uma escolha também, embora duramente criticada pelos fundamentalistas de plantão. Não acho que este seja o caso de Charbel, tenho comigo que ele continua vivinho da Silva, mas acredito que ele tenha realmente dado cabo daquela vida que ele tinha, mas que não sustentava seus anseios. Você ai, fala sério quantas vezes já pensou em sumir? Todos os dias milhares de pessoas pensam a mesma coisa, pois bem nosso colega não só pensou como sumiu... Agora se ele esta em alguma comunidade alternativa esperando uma nave que o levará direto ao paraíso extragaláctico ou se resolveu virar piloto MotoCross em algum recanto mineiro, sinceramente espero que esta nova vida esteja o fazendo feliz. Muitos podem estar questionando quanto ao sofrimento das pessoas que o amam, eu particularmente acho que a busca pela felicidade pode ser muito egoísta, mas também nenhum de nós sabe o que o motivou, como eu não sei o que motivou a invasão das formigas no meu apartamento. E no fim não é que deu retranca!

quarta-feira, 25 de março de 2009


Piazzolla e Sopa Instantânea...

Muriel olhava fixamente o fundo do copo ao lado a garrafa de vinho já a um quarto para acabar, pensou em descer até a mercearia, pela janela viu que uma chuva fina deixava seu dia mais melancólico. Ouviu passos no corredor, endireitou-se na poltrona e esperou que a maçaneta da porta girasse, foi tomada por certa ansiedade e instintivamente escondeu a garrafa de vinho mas os passos passaram diretos e ela pode ouvir a porta do apartamento vizinho se abrindo. Reclinou-se novamente com certo alívio e serviu-se da ultima taça, ao menos teria tempo de livrar-se dos indícios de que havia bebido, queria evitar o olhar de desaprovação de Alan com sua expressão de eterno equilíbrio a perguntar-lhe se estava bêbada, lembrava-se de como ele a fazia sentir-se anormal balançando levemente a cabeça de um lado pro outro. Fechou os olhos e recordou-se de uma cena de sua infância quando sua avó batera-lhe na boca por ela ter dito um palavrão e pelas freqüentes advertências: “... Deus não gosta de meninas de boca suja, ou... Deus não gosta de meninas malcriadas!”. Definitivamente, Deus não gostava dela e a recíproca era verdadeira. Adormeceu, mas antes lavou o copo e livrou-se da garrafa.
Acordou lá pelas tantas após ter sonhado que cachorrinhos de duas cabeças carregavam seus chinelos, assustou-se ao ouvir vozes, novamente seus vizinhos estavam discutindo, a velha dos gatos e o contador exibicionista. Ela por volta dos oitenta, só tinha por companhia meia dúzia de gatos gordos e preguiçosos que passavam o dia a tomar sol, chamava-se Madalena. Dona Nena como era mais conhecida tinha uma estória tragicômica que não fazia questão de esconder, muito pelo contrario, contava cada vez que arrumava uma vítima para seu desabafo. Era viúva de um diplomata, não teve filhos pois temia perder a liberdade que a possibilitava viajar o mundo todo, entre outras passagens contava orgulhosa ter participado de uma recepção na Casa Rosada numa de suas viagens a Buenos Aires. Vivia num delírio de ostentação ate o dia em que recebeu a notícia de que seu marido havia dado entrada no PS do hospital de uma cidade litorânea com o pênis colado na mão de sua amante e um tiro no peito. Tinham sido flagrados no leito conjugal pelo marido, este por sua vez trabalhava em um estaleiro e usou todo seu conhecimento em colar cascos de navios para perpetuar o momento. Ele morreu por conta do tiro, ela escapou e acabou ficando com metade dos bens do falecido alem da pele de seus órgãos genitais na mão, descobriu-se depois que tinham um filho em comum. Dona Nena herdou a outra metade, mas acabou estourando tudo em casas de bingo e analistas e agora sobrevivia com o dinheiro da aposentadoria.
Ele passado dos cinqüenta era contador em uma repartição pública, morava com uma garota mirrada e cheia de piercings que tinha metade de sua idade, tinha o hábito de desfilar pelo corredor vestido somente com um roupão encardido levemente aberto, sorrindo com seus dentes tortos e amarelos. Não tinha uma vida muito interessante limitava-se a trabalhar, beber e discutir com sua vizinha. Ele reclamava do mau cheiro que os gatos causavam e ela pela conduta nada apropriada dele e de sua namorada que, sejam amando-se ou degladiando-se sempre o faziam aos berros.
Muriel olhou no relógio e ficou desolada pois dormira a tarde toda, a chuva havia cessado e fazia uma noite fria, olhou a desordem do apartamento mas não se importou com isso, resolveu descer e comprar outra garrafa de vinho e um pacote de sopa instantânea , pois Alan estaria com fome quando retornasse, pegou o casaco e saiu.
Cruzou com o contador com o seu roupão encardido e seu sorriso amarelo, quase pisou em um dos gatos, o elevador cheirava a mofo misturado a tabaco rangia e balançava como um ônibus de subúrbio e ela sentiu-se aliviada quando saiu do prédio e pode respirar ar puro.
Já passava das onze, Muriel atravessou a praça a passos lentos o vazio lhe arrancara a pressa, os trejeitos já não eram mais frenéticos como outrora e os cartazes do cinema não lhe chamavam mais a atenção, nem a discussão dos travestis, o comercio estava quase todo fechado com exceção da farmácia e do armazém, serviços de primeira necessidade ! No primeiro muito iluminado, podia-se ver um casal com bebê rosado ao colo, o segundo na penumbra, de lá ouvia-se as ébrias conversas, ela entrou e não deu atenção aos olhares torpes pagou o vinho e saiu indiferente aos comentários sobre suas ancas, voltou para o prédio o elevador rangeu e balançou, ela lembrou do ônibus e viu que esquecera a sopa instantânea....
...dez para meia-noite, ela serviu-se de uma taça de vinho e um antidepressivo, este devidamente recomendado pelo seu médico. Não estavam funcionando! ... nem o médico e nem o antidepressivo, mas ao menos o segundo combinado ao vinho dava-lhe uma agradável sensação, acomodou-se na poltrona de frente para porta e tentou escrever mas nada lhe vinha a cabeça, pegou um livro mas não conseguia concentrar-se na leitura, pensou que talvez deve-se voltar a mercearia e comprar a sopa, foi conferir o quanto restara-lhe de dinheiro e viu que gastara suas últimas notas no vinho.
...três e meia, resolveu ouvir Piazzolla, rodopiou pela sala derrubando os objetos na estante e quebrou um anjo de biscuit, alguém bateu na porta e ela apressou-se a esconder o vinho se recompôs e correu a abrir, era a garota dos piercings, estava usando um robe transparente e segurando uma fita de vídeo com uma dominatrix na capa, sorriu e a convidou para um “ménage a troa”, Muriel agradeceu mas disse que não achava seu namorado atraente, fechou a porta aninhou-se na a poltrona e caiu num choro compulsivo...
...chorou por Alan, pela velha dos gatos, pela sua avó e seu Deus intolerante que não gostava de garotinhas más, pelo contador e sua namorada, pelos bêbados do armazém e pelos bebes rosados das farmácias, pelo tango triste de Piazzolla e depois de ter molhado o suéter e congestionado o nariz a ponto de não mais poder respirar viu que já passavam das cinco da manhã, foi ate a janela a luz do sol começava a pintar o céu, ela conclui que o dia seria bonito, e então se atirou do quinto andar ...
...passou pelo quarto, a senhora que assistia a TV não a viu.
...passou pelo terceiro, uma criança dormia serenamente em seu berço.
...passou pelo segundo, um cão latiu e correu para a janela.
...derrubou um vaso de violetas ao passar pelo primeiro.
Estatelou-se na calçada com um barulho abafado no momento em que Alan dobrava a esquina, ele correu aturdido e deixou cair os pães e os livros que carregava, balançou a cabeça de um lado para outro, mas já não estava tão equilibrado!